sábado, 30 de agosto de 2008

Vem pra Caixa você também, vem!



Fim de mês, último dia últil, último dia da semana, pagamento de salários, aposentadorias, bolsas-família, e todas as outras coisas que se faz em bancos. Na minha cidade as agências abrem às 10h, mas, em datas como essa, as pessoas invadem as salas do auto-atendimento já às 6h.
Nesses dias podemos ver de perto cenas gratuitas de descaso, desrespeito, desaforos e outras palavras que o prefixo lhe couber.
Nesses dias, vemos bem de pertinho aquelas pessoas que não aparecem nas revistas de moda, sabem aquelas pessoas que o glamour tenta esconder? Pois é, ali enxergamos pessoas sem dentes - mas que sorriem tão comovente e escancarado - com cabelos por pentear, pessoas cheirando mal, ou cheirando tanto e algo assim tão forte que nos enjoam.
Ali também encontramos crianças descalças, crianças perebentas (feio né? mas é assim mesmo), mulheres grávidas de seu quarto ou quinto filho, segurando dois pequenos, enquanto eles brincam de se esconder pelas pernas dos outros.
Lá está aquilo em que não pensamos, no alto de nossa juventude e vigor.
Alí, naquela agência cheia de paredes de vidro, está exposta a vergonha que fingimos não saber. O Brasil enrrugado, que suja as mãos de tinta azul no afã de assinar e validar algum documento, cansado de trabalhos exaustivos, e tão mais cansados ainda de serem ignorados.
Levam - elas - seus documentos enrolados em sacolinhas plásticas e suas senhas, anotadas num pedaço de papel, muitas vezes guardadas no lado esquerdo do peito, no sentido quase literal da palavra, pessoas que foram exploradas durante toda uma vida e que, hoje, contam os dias - ah, sim! contar elas sabem - à espera do fim do mês pra receberem seu salário que 'o governo' lhes deu.
Pois, até onde sei, todo mês é assim, mas hoje, na agência da Caixa Econômica Federal, em Vitória de Santo Antão, às 9:30 da manhã, OITO dos OITO terminais de auto-atendimento estavam sem dinheiro. Centenas de pessoas se espremiam em filas que se perdiam, entre os que aguardavam o horário de abrirem as portas agência e os que esperavam, ávidos, pelo seu merecido e esperado benefício. Até as 11:30 apenas dois terminais haviam sido reabastecidos.
Enquanto presenciava essas cenas, me vieram à lembrança as promessas, tão vazias quanto absurdas, que sou, quase, obrigada a escutar diariamente no horário - gratuito - e político. Confesso que me senti envergonhada por não poder fazer nada. Senti-me envergonhada por observar, atônita, enquanto minha mente ortodoxa era invadida por pensamentos insamos, o quanto elas se conformam e não têm nem forças de reivindicar seus direitos, que aliás, nem conhecem... Justo hoje que resolvi ir trabalhar montada em meu scarpin, passei longas 3 horas naquela sala, quente, abafada, tumultuada e mau-cheirosa do banco. Enquanto meus pés doíam, me imaginava, num ato de rebelião, segurando uma marreta e quebrando todas aquelas paredes de vidro, já manchadas de marcas de mãos, e enquanto os vidros caiam, eu ria ensandecida...
Vi, ali, pedaços de vidas, pedaços de conversas, pedaços de senhas caidas, pedaços de gente, como eu, pedaços de um Brasil maltratado mas que não perde as esperanças e que trabalha e luta e sorri, ainda que seus dentes já se tenham ido.
Está aqui exposto meu desabafo em mais uma de minhas lambanças bancárias!

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem inventou banco não estava em seu juízo perfeito! rs

Carol disse...

Odeio banco, odeio fila de banco. odeio, odeio, odeio. Fujo até quando não puder mais.

afeeee

Anônimo disse...

Adoro suas histórias bancárias! Vc precisa contar as comédias, rs...
Beijos!

Carol disse...

Tb acho!

QQr dia eu conto a historia de quando eu dei mole pro gerente só pra nao pegar fila! hahahaha